Ultimamente
tenho feito tantas coisas que nem sequer sei por que faço, coisas que eu não
gostaria de fazer, mas mesmo assim continuo fazendo, outras que me são
indiferentes, não encontro razões para fazê-las (e essas são as que mais me
atormentam). Acho que não só ultimamente, creio que de pelo menos três anos pra
cá tenho sido assim.
Acho que me tornei adulto
definitivamente. Até agora via isso com muita naturalidade, mas hoje de manhã,
enquanto tomava banho (esse momento é um dos que mais me fazem pensar, talvez
pela solidão que só o banheiro me oferece) me peguei refletindo sobre minha
vida toda, e percebi que mesmo estando em um dos momentos mais felizes da minha
vida, ando entrando num estado de comodismo muito fora do que eu não esperava
para mim quando chegasse a essa etapa da minha vida.
Eu me imaginava entrando na faculdade
e fazendo mil coisas diferentes do habitual, conhecendo pessoas novas, abrindo
minha mente, experimentando tudo aquilo que até então eu nunca tinha provado,
mas o meu amigo Eu Mesmo prevaleceu sobre minhas vontades de novo, não me
deixou mudar como eu queria, com a ajuda da amiga e aliada dele, Vida, que vive
me empurrando pros caminhos que ela quer. Nessas horas até começo a acreditar
em destino, aliás, acreditar não, descobrir que ele existe.
Afinal, desde que o universo se formou,
criou-se um efeito dominó de vários eventos, que se sucederam e deram origem a
outros, mas no fundo no fundo sempre existiu uma dinâmica que os levou a
acontecerem, como numa mesa de bilhar. Se o cara que está jogando for muito
bom, ele saberá exatamente em que bola bater, qual a força que deve aplicar e
em qual ponto, para que possa encaçapar qualquer bola. Aquele papo de “escrito
nas estrelas” faz todo sentido para mim quando penso nisso, parece que está
tudo predestinado a acontecer. Se juntarmos isso ao Freudianismo até nós
estamos sujeitos ao tal destino, porque todos os eventos ao nosso redor
contribuiriam para decidir quem seriamos no futuro, consequentemente também
ditariam todas as nossas escolhas.
Visão um tanto pessimista da vida,
mas é ela que tem me confortado nesses dias de falta de sonhos e perspectivas.
Dão a ilusão de que sempre terei um tutor para me proteger, a vida sempre
estará encarregada de me fazer seguir em frente, mesmo quando eu parar de
andar.
Parece
que meus sonhos findaram. Não os tenho mais. Parece que do dia que alcancei meu
derradeiro objetivo de adolescente perdi minha capacidade de querer continuar
crescendo na vida adulta.
Parece que sim, mas não fugi do
assunto do início do texto. Essa rotina que tenho seguido é causada por essa
falta de sonhos.
Uma vez li um livro que é bem
conhecido, porém poucos prestam a devida atenção no que nele está escrito. Chama-se
O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, que me foi apresentado por esta obra e
desde então é um dos meus autores favoritos. Em suas primeiras páginas, creio
que ainda no primeiro capítulo, Sofia recebe uma carta na qual o interlocutor
compara as pessoas aos microorganismos presentes no pelo de um coelho. No
começo eles estão na ponta dos pelos, onde não estão muito confortáveis, mas
dali conseguem ver muito mais do que somente o mundo em que estão, o coelho.
Quando ficam velhos vão descendo, até chegar na raiz dos pelos, lá na pele, onde
estão quentinhos e estáveis, mas não podem enxergar mais nada além do que está
a sua volta.
Quero voltar às pontas dos pelos,
mas acho que perdi o caminho, parece que saí de lá há uma eternidade, e às
vezes até me esqueço que já estive lá, como se eu já tivesse nascido aqui
embaixo. Acho que isso é da natureza do ser humano, encontrar um lugar estável.
Nunca foi o que eu quis para mim, nem em meus tempos de criança comportada.
Naquela época eu ainda vivia, não apenas sobrevivia. Depois desse banho de
autoconhecimento espero voltar a viver.